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  • Foto do escritorJorge Talixa

“Havia mais proximidade entre Vila Franca e os campinos”


José “Mimoso”, campino homenageado no Colete Encarnado, em entrevista

José Joaquim Rodrigues da Silva, conhecido por José “Mimoso”, foi o campino homenageado na edição 2019 do Colete Encarnado. Os acasos da vida fizeram com que nascesse em Lisboa, mas José “Mimoso” tinha raízes familiares em Benavente e no Cartaxo e foi no Ribatejo que se fixou. Durante mais de 30 anos trabalhou como campino em várias casas agrícolas da região, até que as condições físicas o obrigaram a uma reforma antecipada.

Aos 76 anos, mantém o gosto pela campinagem, participa em muitas das festas da região e foi escolhido, este ano, pelos seus pares para a homenagem do Colete Encarnado. Confessa que não esperava e que sente a responsabilidade do momento. Homem simples e humilde, José “Mimoso” é um bom conversador, muitas vezes bem-humorado. Mas a vida também lhe deixou marcas, sobretudo os 28 meses que passou na Guerra Colonial e os companheiros que viu cair no conflito.

Voz Ribatejana – Estava à espera de receber esta homenagem no Colete Encarnado?

José Rodrigues “Mimoso” – Não estava nada à espera. Venho aqui há muitos anos, mas não estava à espera

Já tem quantos anos de Colete Encarnado?

Já não me lembro há quanto anos venho ao Colete Encarnado. Tenho 76 anos, comecei nesta vida com 14.

Nessa altura como é que era o Colete Encarnado?

Antigamente era mais bonito, era melhor. Era a garra e a simplicidade de um povo. Havia mais proximidade entre as pessoas de Vila Franca e os campinos e mesmo com os animais. Hoje toda a gente tem um automóvel, naquele tempo ninguém tinha um automóvel. Era um burro, uma carroça. Os animais eram nossos e sem animais não fazíamos nada.

O senhor José vai a muitas festas ribatejanas, acha que a população das vilas e das cidades esta hoje um pouco desligada do campo?

Está. Vila Franca continua na mesma, vai mantendo. Mas houve uma altura em que ninguém de Vila Franca trabalhava no campo. Hoje é mais. Houve uma altura que eram os gaibéus (trabalhadores oriundos das beiras) e os caramelos (oriundos do Alentejo) quem trabalhava no campo. Agora já é mais daqui.

O Colete Encarnado de hoje em dia continua a ser uma grande festa ou não?

Sem dúvida, mas não tem nada a ver com o que era antigamente.

O que é que falta?

Os nossos lavradores estarem presentes. E o respeito, porque já não há respeito como antigamente, quando entravam os nossos lavradores de chapéu. O senhor Fernando Palhas que Deus haja, era um grande homem

Mas o Colete Encarnado também é muito uma festa do povo…

Sem dúvida alguma, mas a presença dos lavradores faz-nos muita falta. Desde o 25 de Abril deixaram de nos acompanhar.

E mais provas e actividades com campinos, acha que também fazem falta?

Isso mantém-se, até porque as pessoas têm muito gosto em nos verem no Colete Encarnado. Já não é aquilo que era, mas as pessoas gostam muito.

E acha que esta profissão de campino tem futuro?

Não, acabou. Acabou…

Mas continua a haver muitos campinos, no ano passado participaram mais campinos no Colete Encarnado do que nos anos anteriores?

Ah, tractoristas…

O senhor também trabalhou com tractores ou não?

Não, não, nunca. Com uma junta de bois, sim. Com uma mula e um cavalo engatado à carroça, sim.

Se fosse mais novo, se tivesse 40 ou 50 anos tinha que se sujeitar aos tractores?

Talvez fosse capaz. Era melhor, porque ia ficar todas a noites com a minha mulher a casa. E eu como campino só ia ficar com a minha mulher de oito em oito dias.

Para o futuro, vê alguma rapaziada interessada nisto?

Não, nunca mais. Até porque o António Mourão já morreu. Ele cantava: oh tempo volta para trás. Acabou, acabou tudo.

Mas ainda se vê muita miudagem nestes desfiles de campinos…

Não. Já não. Só se vestem no Colete Encarnado. Usar um barrete na cabeça no dia-a-dia ninguém usa.

Mas as pessoas têm admiração pelo vosso trabalho.

Ah, admiração de quê? De um analfabeto, de um atrasado na vida. A minha vida… fui sempre um homem de manta às costas. Lidei com gado até quase ao 25 de Abril. Conheci este campo todo.

Pensando nestes 50 anos, valeu a pena?

Valeu por eu estar vivo.

Se voltasse atrás escolhia outra coisa ou escolhia à mesma ser campino?

Não sei. Não sei. É complicado, porque a vida nos traz um destino. É complicado, é difícil de dizer…

Tinha dúvidas, se soubesse o que sabe hoje?

Se soubesse o que sei hoje, fugia para França como os outros fugiram, para não ir à guerra. Estive na guerra com o nosso general Spínola. É chato ir para a guerra com 750 homens e quase metade ficar lá. É difícil esquecer aquilo tudo.

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